ORIGENS DO TAROT Considerado um dos oráculos mais conhecidos do mundo, o Tarot continua a ser uma fonte de sabedoria e uma verdadeira viagem à natureza íntima do ser humano. A sua linguagem é profundamente simbólica e, compreendida num plano mais elevado, pode oferecer a chave para os mistérios da existência humana e do universo. O Tarot incorpora as representações simbólicas das ideias universais, por detrás das quais estão todos os subentendidos da mente humana. Esta doutrina existiu sempre, foi idealizada na consciência de uma minoria, perpetuada, em segredo, de um iniciado para o outro e registada nos livros secretos da alquimia e Cabala. Na antiguidade, a ciência esotérica era transmitida a uma minoria de homens (iniciados), sendo as suas capacidades testadas numa série de provas. A transmissão do conhecimento era realizada nos templos e locais sagrados e o detentor da sabedoria divina era chamado Sacerdote. Esse conhecimento permanecia oculto ao povo, considerado leigo. A forma utilizada para ocultar o conhecimento universal aos leigos foi a simbologia, costume comum em sociedades secretas. Essa simbologia está subjacente à criação das próprias lâminas de Tarot, que no seu conjunto traduzem todas as vertentes da realidade humana. O facto é que o surgimento do Tarot perde-se num passado incerto. As hipóteses que sugerem as suas origens são inúmeras e muitas vezes contraditórias. As mais credenciadas afirmam que o Tarot é uma ciência multimilenar nascida de algumas das antigas culturas, provavelmente a egípcia. Esta hipótese passou a ser defendida já no final do século XVIII por alguns pesquisadores europeus, entre os quais Antoine Court de Gébelin. Segundo este erudito francês, o Tarot é nada mais que o lendário livro de Thoth, a chave de toda a sabedoria antiga, um dos documentos secretos que a Inquisição perseguiu insistentemente durante a Idade Média. Apesar da sua presença antiga na cultura oriental, foi somente no século XIV que as cartas de jogar chegaram à Europa. Certos pesquisadores acreditam que tenham sido levadas pelos cruzados, outros, pelos sarracenos e a maioria atribui o feito aos povos ciganos. Contudo, o primeiro dado concreto de que se tem registo (data de 1377) é o relato do monge alemão, que escreveu um ensaio no qual tece comentários sobre um jogo de cartas. Ele descrevia não exactamente o Tarot, mas um baralho de jogar semelhante ao que hoje conhecemos, cuja finalidade exclusiva era o entretenimento. Um decreto do rei João I, de Castela, promulgado em 1387, proibia o jogo de cartas, o que leva a crer que este divertimento tenha alcançado um enorme sucesso, ao ponto de preocupar as autoridades. Já o rei Carlos I de França, menos preocupado com isso, encomendou ao pintor Jacquemin Gringonneur, (1392) a confecção de três baralhos, magnificamente ilustrados a cores e adornados com efeitos dourados. A partir dessa época, vários baralhos surgiram em diversas regiões da Europa, geralmente confeccionados em madeira. Com o início do Renascimento assistimos a uma mudança de mentalidades na Europa. A Igreja perde muito do seu poder e começam a surgir, especialmente em Itália, poderosas famílias aristocratas. É sob o amparo e patrocínio dessas poderosas famílias que começam a surgir novos baralhos. Em 1415, encontramos em Veneza, um tarot de 78 cartas, com 22 Arcanos Maiores e quatro séries de 14 Arcanos Menores. Em Bolonha, surge “II Tarocchino” com 62 cartas. O Tarot florentino, também da época, consta de 97 cartas: 56 Arcanos Menores e 41 Arcanos Maiores, sendo 17 da sequência clássica e 12 signos zodiacais. O mais conhecido entre os antigos baralhos é o Tarot de Marselha. Com desenhos diferentes dos demais, mas com os mesmos temas, foi criado provavelmente na cidade francesa que lhe dá o nome, no final do século XV. Enquanto as lâminas dos baralhos “aristocratas” ostentavam desenhos elaboradíssimos, realizados por artístas de prestígio, o popular Tarot de Marselha destacava-se pela simplicidade das imagens, cujas cores são primárias, com predominância do azul e do vermelho. O Tarot de Marselha é o mais reproduzido ainda hoje, e provavelmente o mais utilizado no mundo. Por volta do século XVII, a criação das cartas de Tarot seguiu um novo rumo. Por essa altura a Europa vivia uma forte influência da cultura cigana. Os ciganos, ligados ao colorido forte, determinaram a evolução artística do Tarot: as cartas começaram a ganhar tons mais alegres e menos sombrios. Nessa época assistiu-se a uma proliferação de baralhos de Tarot que eram impressos usando carimbos de madeira. Antoine Court de Gébelin foi um dos maiores pesquisadores e estudiosos do Tarot. Após vários anos de pesquisa acabou por concluir (apesar de nunca apresentar provas concretas) que o Tarot é originário do Antigo Egipto, sendo uma versão do lendário Livro de Thoth, com pequenas alterações. O livro matriz teria sido elaborado pelo próprio Thoth, em lâminas de ouro, e, segundo o esoterista Paul Christian, estaria oculto num templo próximo da cidade de Mênfis, no Egipto. Outro intelectual francês, Eliphas Lévi iniciou seus estudos sobre Tarot em 1856. O seu verdadeiro nome era Alphonse Louis Constant, um sacerdote católico. Filósofo e escritor de extraordinária cultura, Lévi relacionou os vinte e dois Arcanos Maiores do Tarot com as vinte e duas letras do alfabeto hebraico e apontou estreitas ligações entre eles e a Árvore da Vida dos cabalistas, cuja estrutura básica compõe-se igualmente de vinte e dois caminhos que interligam as dez sephirot. Pesquisador incansável, Éliphas Lévi escreveu vários livros de fundamental importância para os estudiosos do ocultismo, entre os quais Dogma e Ritual da Alta Magia, que se divide em duas partes compostas de vinte e dois capítulos cada uma. Embora não seja abertamente declarado, cada capítulo corresponde a profundas reflexões sobre os vinte e dois Arcanos Maiores. Este livro e a associação à Cabala proporcionaram ao Tarot a sua definitiva ascenção aos mais altos graus de interesse dos ocultistas do final do século XIX até aos dias actuais.
Conhecida personagem referenciada nas obras dos ocultistas do século XIX foi Etteila. Fabricante de perucas para a corte francesa, era amigo íntimo de Mlle. Lenormand (famosa cartomante de Napoleão) e Julia Orsini (outra famosa cartomante francesa). Instalou-se num dos mais luxuosos hotéis de Paris (Hotel de Crillon, conquistando fama, vasta clientela e fortuna ao prever o futuro de destacadas figuras da aristocracia francesa.
Uma das figuras mais prestigiadas do século XX foi o ocultista britânico Aleister Crowley. Dono de uma personalidade controversa e de um invejável senso de autopromoção, tornou-se uma figura de expressão no cenário ocultista e também fora dele. Na década de 40 do século XX, Crowley juntamente com Lady Frieda Harris, criaram o famoso Tarot de Thoth que inclui elementos simbólicos egípcios , gregos e orientais. Crowley acreditava que o Tarot era um conjunto de informação secreta, uma força viva e uma chave para o mundo que habita no inconsciente.
No decorrer do século XX, a psicologia teve uma influência determinante na criação e elaboração de novos baralhos que incorporam conscientemente novos e fascinantes elementos psicológicos. Nesse contexto e com os novos conhecimentos divulgados por Jung e outros pesquisadores passou-se a adoptar uma postura mais científica em relação ao simbolismo do Tarot. O ser humano passou a compreender melhor os fenómenos parapsicológicos e as profundezas da mente e do subconsciente.
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